Com grande importância nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil por sua ampla gama de hospedeiros, o mofo branco (ou “podridão da haste de esclerotínia”), causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, é uma doença altamente contagiosa entre culturas e que pode causar sérios problemas às lavouras.
Foi registrado pela primeira vez no Brasil na década de 20, depois na década de 50 nas regiões Sudeste e Sul em feijão e hortaliças. A maior severidade desse fungo ocorreu em 1976, em cultivos de soja no Paraná, com o patógeno sendo posteriormente disseminado em áreas irrigadas na região dos Cerrados na década de 80.
Além de agressiva, a doença afeta uma ampla gama de hospedeiros (mais de 400 espécies registradas), restringindo as opções para rotação de culturas nas áreas infestadas.
Nesse cenário, a introdução de Brachiarias spp. e Panicum spp. no plantio direto vem se configurando como uma excelente alternativa para o controle do mofo branco e para a recuperação da qualidade do solo (veja mais no item 4).
1. Principais características do agente causador do mofo branco
As condições ideais para o desenvolvimento do fungo relacionam-se às temperaturas moderadas (entre 18 e 23 °C) e alta umidade relativa do ar, que ocorrem em zonas de clima temperado, regiões subtropicais ou tropicais de elevada altitude.
Uma característica bastante marcante do Sclerotinia sclerotiorum é a capacidade de, a cada ciclo da doença, formar grande quantidade de estruturas resistentes, capazes de permanecer viáveis por vários anos, chamadas de escleródios. Estudos indicam que os escleródios podem permanecer até 11 anos no solo, conservando intacto seu poder patogênico.
Após permanecerem no solo, expostos a temperatura amena e alta umidade, os escleródios germinam e formam um novo micélio ou apotécios (estruturas em forma de taça). Estes, por sua vez, ejetam milhões de ascósporos para o dossel vegetativo, podendo ser disseminados pelo vento a curtas distâncias.
O fungo também é transmitido na forma de micélio dormente ou escleródios pelas sementes, que, se mal beneficiadas, sem a limpeza e tratamento correto, podem viabilizar o transporte do patógeno a longas distâncias.
2. Sintomas e maiores prejuízos do mofo branco em lavouras
O sintoma inicial é geralmente a murcha da planta, resultado do apodrecimento do caule causado pela ação do fungo. Em seguida, os sintomas, que podem ser observados em todas as partes das plantas (folhas, hastes e vagens), ocorrem através da formação de manchas encharcadas, seguidas por crescimento de micélio branco e cotonoso, o que dá origem ao nome “mofo branco” (como na foto deste artigo).
Com o progresso da doença, os escleródios do fungo são formados. Eles são facilmente visíveis a olho nu, tanto dentro do tecido infectado quanto sobre ele. Além disso, os tecidos doentes tornam-se secos, leves e quebradiços.
Já as sementes infectadas tornam-se pequenas, sem brilho, descoloridas, enrugadas e mais leves, mas podem também não apresentar qualquer sintoma externo.
Diante dessa sintomatologia, os prejuízos diretos são percebidos através da menor produtividade das plantas. Já entre as perdas indiretas, relacionam-se a condenação de áreas para a produção de sementes, o aumento do custo de produção e os custos ambientais decorrentes da necessidade de adoção do controle químico.
3. Estratégias de controle do mofo branco nas lavouras
Uma vez presente nos campos de cultivo, é praticamente impossível erradicar o mofo branco de forma definitiva dessas áreas.
Entre as recomendações para reduzir o prejuízo, destacam-se as práticas de manejo integrado, já que as medidas isoladas não proporcionam controle satisfatório. E, entre as medidas integradas, o controle cultural com formação da palhada para o sistema de plantio direto (SPD) e o controle biológico com antagonistas são ótimas opções.
O controle cultural pela cobertura do solo com palhada pode inibir a formação de apotécios. Já o controle biológico, com aplicação de Trichoderma harzianum, pode ser uma boa opção, já que tem a capacidade de reduzir em 62,5% o número de escleródios viáveis.
Vale ressaltar que no plantio direto a intensidade do mofo branco tende a ser menor quando comparado ao plantio convencional (com aração e gradagens), tendo efeitos a curto e longo prazos sobre o patógeno.
4. Controle do mofo branco com palhada de Brachiaria spp. ou Panicum spp.
Conte com uso de palhada no curto prazo, ela reduz a intensidade da doença, ao impedir que a planta entre em contato com o solo contaminado ou que a estirpe alcance a superfície e forme apotécio. A palhada também mantém o teor de água e a temperatura da superfície do solo mais constante, favorecendo antagonistas do patógeno.
Já em longo prazo, a camada de palhada acumula relativamente mais matéria orgânica e nutrientes. Isso estimula naturalmente a proliferação de micro-organismos antagonistas que, auxiliados pelas grandes oscilações de umidade e temperatura, abreviam a viabilidade dos escleródios, que teriam vida mais longa se enterrados.
Trabalho de mestrado da Claudia Adriana Görgen, 2009, exemplifica como isso ocorre:
5. Brachiarias e Panicuns em plantio direto: série de benefícios para agricultores
- O crescimento profundo das raízes desses tipos de forrageiras favorece a infiltração de água e a atividade de micro-organismos do solo. Isso gera um ambiente menos favorável à germinação de escleródios;
- Opte fazer palhada com forrageiras que tenham a tecnologia SOESP Advanced, que chegam no solo limpas e com fungicida em seu tratamento;
- Cultivadas por dois anos ou mais, têm ação supressora porque melhoram a saúde do solo e cobrem o solo por mais tempo do que a de outras espécies de clima tropical, impedindo a formação de apotécios e a ejeção de ascósporos.
Referências
- https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/54406/1/palestra6.pdf
- https://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/1119436/1/cap19livrotrichodermaonline06.01.201.pdf
- https://www.scielo.br/pdf/sp/v43n2/0100-5405-sp-43-2-0145.pdf
- https://bdm.unb.br/bitstream/10483/5976/1/2013_LidianeRodriguesXimenes.pdf
- https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/781613/1/cot45.pdf
- https://www.scielo.br/pdf/pab/v44n12/v44n12a04.pdf
- http://www.pioneersementes.com.br/blog/119/manejo-de-mofo-branco-na-cultura-da-soja
- https://bdm.unb.br/bitstream/10483/5976/1/2013_LidianeRodriguesXimenes.pdf
- https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/11198/1/2011_LeonardoMinareBrauna.pdf
- https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tde/356
Para saber mais sobre o manejo de pastagens te convidamos a conhecer o blog da semente da SOESP.