O que é a síndrome da morte do braquiarão
A Síndrome da Morte do Capim-braquiarão (comumente chamada morte-súbita, ‘morte do braquiarão’ ou só SMB), é a união de sinais e sintomas observáveis em vários processos patológicos diferentes, e pode afetar outros capins além do braquiarão (Brachiaria brizantha cv. Marandu), como o BRS Piatã e MG-4 e ocasiona prejuízos expressivos às pastagens.
Por que e como a síndrome ocorre
O problema ocorre principalmente no Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Mato Grosso e Tocantins porque essas regiões têm um regime intenso de chuvas, passando dos 2.100 mm anuais, e com solos mal drenados ou de baixa permeabilidade (compactados) que levam a alagamentos ou encharcamento do solo, reduzindo a oxigenação das raízes.
O Marandu (“braquiarão”) apresenta baixa adaptação a solos encharcados e suscetibilidade ao ataque de fungos. Como consequência, essa doença deixa as folhas amareladas e murchas (com aspecto de fenadas), resultando na mortalidade das touceiras. Normalmente observamos a manifestação dessa doença em reboleiras.
Na fase avançada dessa síndrome, as pastagens apresentam grandes áreas onde as plantas já morreram, sendo gradualmente ocupadas por plantas invasoras. A ausência de uma intervenção precoce por parte do produtor pode resultar na degradação total da pastagem, sendo essa uma das principais consequências da SMB.
Fatores que desencadeiam o surgimento
Diversos estudos comprovam a relação entre a morte do capim e as áreas alagadas. Eles também indicam que a síndrome da morte do braquiarão tem a sua origem a partir de alterações fisiológicas e morfológicas sofridas por esse capim, essencialmente quando ele é exposto a períodos de excesso de água no solo.
Além disso, práticas inadequadas de manejo que levam à compactação são responsáveis pela ocorrência da síndrome. Elas podem alterar a drenagem natural dos solos, tornando-os mais suscetíveis a períodos intermitentes de encharcamento ou com muita água nos poros.
Dentre essas práticas, o estresse de manejo causado pela utilização de altas cargas animais é um dos mais importantes, pois, invariavelmente, levará à perda da produtividade e do vigor da pastagem.
Dessa forma, a falta de planejamento representa mais um dos muitos fatores que resultam em compactação dos solos com elevação da possibilidade de surgimento da síndrome na pastagem.
Por fim, o efeito secundário de todo o processo de alagamento de áreas é o ataque de fungos fitopatogênicos de solo (Rhizoctonia, Fusarium e Pythium). Estes colonizam a base da planta , levando à sua morte.
Diversos estudos também indicam que as alterações no metabolismo do capim-marandu anteriormente citadas fazem com que esse capim seja mais suscetível a ataques oportunistas destes fungos patogênicos, os quais, em outras condições, não teriam a capacidade de causar danos mais sérios à planta.
Estratégias para manejo da síndrome da morte do braquiarão
Não existe uma solução direta para a SMB, e drenar o solo encharcado ou a aplicação de fungicidas são estratégias com baixa eficiência.
A drenagem, além de trabalhosa, pode não ser totalmente eficiente, pois nem sempre a manifestação da síndrome ocorre em áreas de baixadas. Além disso, o encharcamento pode se encontrar nas camadas de subsuperfície (0-40 cm), os implementos disponíveis no mercado não seriam capazes de melhorar o escoamento de água do solo.
Já a aplicação de fungicidas nesta situação não é recomendada por ser economicamente inviável.
Por isso, o melhor caminho para ajudar a solucionar esse problema é a substituição por cultivares mais adaptados a solos mal drenados e mais tolerantes à síndrome, essa diversificação dá ao pecuarista maiores possibilidades de ganhos na atividade com a possibilidade de utilizar plantas com diferentes potenciais de produção, mais ou menos tolerantes ao ataque de insetos, à deficiência hídrica e ao ataque de fungos.
Nesse contexto, a SOESP fornece sementes de Humidicola, Tanzânia, Mombaça, Massai e BRS Zuri, boas alternativas para substituir pastagens degradadas de capim-marandu. O uso de gramíneas (Cynodon, Paspalum) e leguminosas, caso do amendoim forrageiro (Arachis pintoi cv. Belmonte), também são opções. A tabela abaixo representa o grau de adaptação de plantas forrageiras ao encharcamento de solo:
Fonte: Intensificação da produção animal em pastagens: Anais do 1º Simpósio de Pecuária Integrada
Mas, para que a implantação da nova pastagem seja mais assertiva, a escolha da planta forrageira deve ser feita com base em um bom diagnóstico da área (como já falamos aqui).
Posteriormente, o produtor deve atentar-se ao manejo, pois a pastagem caracteriza-se como uma cultura perene que precisa de cuidados e manutenção adequada. Uma planta saudável tem maiores chances de sobreviver aos ataques de pragas e doenças.
Com essas medidas, certamente a síndrome da morte do braquiarão estará longe das pastagens e a qualidade do capim se manterá a ponto de oferecer um bom pastejo aos animais.
Saiba mais: Histórico da síndrome da morte do braquiarão
A partir da década de 60, a pecuária brasileira tinha como foco quase exclusivo a expansão para novas áreas com a implantação de pastos do gênero Brachiaria spp. Entretanto, problemas de ataque de cigarrinhas começaram a surgir, essencialmente em pastagens de B. decumbens, B. ruziziensis.
Para minimizar o problema das cigarrinhas-das-pastagens (Espécies Deois spp. e Zulia spp. principalmente), a Embrapa lançou, em 1984, o capim-marandu (Brachiaria brizantha cv. Marandu), que apresentava resistência a essas pragas. Essa cultivar rapidamente ocupou muitas áreas de pastagens e no início da década de 1990, surgiram alguns relatos da SMB (Síndrome da Morte do Braquiarão) nos estados do Acre e Rondônia.
Foi a partir de 1998 que a mortalidade de plantas começou a ser relatada em diversas localidades nas regiões Norte e Centro-Oeste, tornando-se o assunto principal de diversos estudos na região.
Referências: