PALHADA NA ILP: A chave para um solo mais saudável e produtivo na agricultura.

Os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) têm ganhado destaque por ser uma tecnologia inovadora no agronegócio, já que incorporam atividades agrícolas e pecuária em uma mesma área. A ILP pode ser adotada através das modalidades:

  • Consórcios de culturas anuais com forrageiras (Ex. milho consorciado com forrageiras);
  • Sucessão ou rotação de culturas anuais e forrageiras (Ex. soja no verão e forrageiras no inverno);

A palhada das forrageiras ganha protagonismo porque faz muitos papéis

1)  Proteção e Melhoria da Estrutura do Solo: A cobertura do solo com palhada de forrageiras, como a braquiária, reduz a temperatura do solo, diminui a evaporação da água e promove a formação de agregados, o que possibilita uma maior permeabilidade e aeração do solo. O sistema radicular dessas forrageiras é extenso e profundo, contribuindo para a estabilidade do solo e reduzindo o risco de erosão. Na superfície, a palhada diminui o impacto das gotas de chuva, evitando o desprendimento de partículas do solo.

2)  Enriquecimento do Solo: As forrageiras, ao se decomporem, liberam nutrientes no solo, como nitrogênio, fósforo e potássio, aumentando a sua fertilidade natural. Essa prática aumenta a eficiência do uso de fertilizantes, promovendo uma maior sustentabilidade do sistema de produção. A integração contribui com aumento da ciclagem de nutrientes e aumento da matéria orgânica do solo, que são indicadores que favorecem a atividade biológica do solo, e tornando nutrientes como fósforo e potássio mais disponíveis para as culturas subsequentes

3)  Melhoria da Infiltração de Água: A presença de raízes profundas e a formação de poros no solo, proporcionada pelas forrageiras, facilitam a infiltração da água, reduzindo o escoamento superficial e aumentando a disponibilidade de água para as plantas.

4)  Controle de Plantas Daninhas: A cobertura do solo com palhada de forrageiras reduz a incidência de plantas daninhas, diminuindo a competição por água, nutrientes e luz. Além disso, a presença da forrageira inibe a germinação de sementes de plantas daninhas, isso possibilita o uso mais racional dos defensivos agrícolas.

5)  Aumento da Produtividade: A adoção de sistemas ILP com o uso de forrageiras, como a braquiárias e panicuns, tem demonstrado um aumento significativo na produtividade de diversas culturas, como a soja. A melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo proporcionada pelas forrageiras contribui para esse aumento de produtividade.

Entenda os atributos

Um dos principais benefícios da forrageira é a alta produção de biomassa. Segundo Aidar et al. (2003), após o consórcio com milho, a braquiária pode produzir até 17 toneladas de matéria seca por hectare, deixando um resíduo considerável no solo mesmo após 3 meses da dessecação.

Essa grande quantidade de biomassa contribui para a melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, favorecendo a retenção de água e nutrientes. Além disso, os resíduos da forrageira servem como cobertura vegetal, protegendo o solo contra a erosão e a perda de matéria orgânica.

A forrageira também pode aumentar a produtividade de outras culturas. Broche et al. (1997) observaram que a soja cultivada sobre resíduos de Brachiaria brizantha apresentou maior rendimento em comparação com áreas onde a soja foi cultivada de forma contínua.

Outro aspecto importante é a eficiência no uso de nutrientes. Pesquisas da Embrapa Cerrados mostraram que a recuperação do fósforo aplicado ao solo é significativamente maior em áreas com sistemas ILP, onde a braquiária está presente, em comparação com áreas cultivadas exclusivamente com culturas anuais. Isso indica que a braquiária contribui para uma melhor utilização dos fertilizantes aplicados, reduzindo custos de produção e reduzindo o impacto ambiental.

Em resumo, as forrageiras se destacam como uma cultura de cobertura com diversos benefícios para a agricultura. Ao aumentar a produção de biomassa, melhorar as propriedades do solo e aumentar a eficiência no uso de nutrientes, a braquiária contribui para a sustentabilidade dos sistemas de produção e para a melhoria da qualidade dos produtos agrícolas.

Quais os principais desafios e como superá-los?

Produzir palhada na ILP, como toda mudança, a adoção da ILP exige planejamento e adaptação.

  • Aprendizado constante: A ILP exige um novo olhar sobre a produção, com mais planejamento e conhecimento técnico. Mas não se preocupe, existem diversas iniciativas e programas de apoio para auxiliar os produtores nessa jornada.
  • Investimento inicial: A implantação de um sistema ILP pode exigir investimentos em infraestrutura e equipamentos. No entanto, a longo prazo, esses investimentos se pagam com o aumento da produtividade e a redução de custos.
  • Planejamento estratégico: É fundamental planejar todas as etapas do processo, desde a escolha das culturas e animais até a comercialização dos produtos. Um bom planejamento garante o equilíbrio entre as atividades agrícolas e pecuárias.
  • Apoio técnico: Contar com o apoio de técnicos especializados é essencial para superar os desafios e otimizar os resultados.
  • Adaptação às condições locais: Cada propriedade possui suas particularidades. É importante adaptar o sistema ILP às condições climáticas e às características do solo da sua região.

A importância das pastagens vai além da produção de forragem

O Brasil possui em torno de 161 milhões de hectares de pastagens nativas e cultivadas e um rebanho bovino de 197 milhões de cabeças. Segundo o Beef Report (2024), 83,42% dos animais abatidos em 2023 foram criados, recriados e terminados a pasto. Apesar das áreas de pastagens estarem reduzindo ao longo dos anos, a produtividade média brasileira praticamente dobrou, passando de 36,2 para 65,8 kg de carcaça por hectare.

Áreas de sistemas integrados no Brasil tem aumentado. Segundo estimativas da Rede ILPF (2020), as áreas com sistemas integrados são de 17,43 milhões de hectares, sendo que em torno de 80% são de ILP. A integração é o presente e o futuro de uma pecuária sustentável.

A área de pastagens plantadas, em especial, tem crescido significativamente ao longo dos anos. Entre 1970 e 2017, essa área mais que triplicou, passando de 30 milhões para 110 milhões de hectares. Atualmente, as pastagens plantadas representam cerca de 70% do total de áreas de pastagem no Brasil.

A Braquiária destaca-se como a espécie mais cultivada em pastagens plantadas no país. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) de 2019 indicam que cerca de 70% da área destinada à produção de sementes de forrageiras tropicais é ocupada por essa espécie. A cultivar Marandu, dentro do gênero Braquiária, é a mais utilizada, representando quase metade da produção total de sementes dessas gramíneas.

O mercado de sementes de forrageiras tropicais movimenta bilhões de reais anualmente. No entanto, apesar do grande volume de negócios, estima-se que cerca de 30% do comércio seja informal (Kist, 2019). Atenção deve ser dada a qualidade das sementes no momento da compra. O produtor deve certificar de que está adquirindo sementes de empresas idôneas e dentro dos padrões de comercialização do MAPA.

Conclusão

A utilização da palhada na ILP é uma prática que traz inúmeros benefícios para o solo e para a agricultura como um todo. Ao melhorar a estrutura do solo, aumentar a retenção de água e nutrientes, e reduzir a erosão, a palhada contribui para a sustentabilidade dos sistemas de produção e para a segurança alimentar.

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Fontes

AIDAR, HOMERO; KLUTHCOUSKI, JOÃO; COBUCCI, TARCÍSIO. Uso da integração lavoura-pecuária para produção de forragem na entressafra. Santo Antonio de Goiás, Embrapa Arroz e Feijão, p. 225-262, 2003.

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