Cabe ao pecuarista equilibrar: a manutenção das forrageiras e o bom desempenho animal. Parte importante dessa tarefa, é decidir o melhor momento para a entrada e saída de animais da pastagem.
O manejo adequado de pastagens possibilita estabelecer metas de produtividade de gado de corte de 8 a 12@/ha/ano, (chegando em alguns casos até mais de 40 @/ha/ano), mas na realidade das pastagens brasileiras, a taxa de lotação quase sempre está acima ou abaixo da capacidade de suporte, e as produtividades acabam ficando apenas entre 3 e 4 @/ha/ano.
De forma geral, gramíneas têm capacidade de rebrotar após cortes ou pastejo sucessivos. Elas podem emitir folhas de meristemas remanescentes e/ou perfilhar, o que lhe permite a sobrevivência às custas da formação de uma nova área foliar. Fatores que afetam o rebrote:
- espécie
- estação do ano
- estágio fenológico na época da desfolhação
- frequência de pastejo
- intensidade de pastejo.
Pensando nisso, te convidamos a conhecer a dinâmica de crescimento de forrageiras, assim como a influência do manejo da altura do pasto na manutenção da qualidade de pastagens e no desempenho animal.
Por que definir o momento de entrada e saída dos animais da pastagem?
Ao longo do tempo, estudos buscam pelo melhor entendimento da dinâmica do crescimento das gramíneas e quais fatores influenciam no seu desenvolvimento.
Estes estudos mostraram que a quantidade e qualidade da forragem atingem o ponto ideal quando suas folhas interceptam 95% da luminosidade solar, e apenas 5% dessa luminosidade chega ao solo, na base da planta. Este é o momento ideal em que a gramínea deve ser pastejada, porém só até onde permita haver novamente estímulo à rebrota e ao novo crescimento de folhas.
Remoções excessivas de forragem (superpastejo) são extremamente prejudiciais para a pastagem. Desfolhação intensa reduz drasticamente a área foliar, por consequência, esgotam as reservas de carboidratos não estruturais das plantas, reduzindo o vigor da rebrota e trazendo como resultado uma produção de forragem mais lenta e maior necessidade de nutrientes no solo. Resultando em diminuição da persistência das plantas forrageiras a curto prazo.
Por isso, a altura de saída dos animais enquanto ainda há biomassa é determinante para garantir a sustentabilidade da pastagem, velocidade de rebrota, quantidade e qualidade de forragem produzida durante o período de descanso do pasto.
Várias pesquisas foram feitas para chegar a essa conclusão, como a Figura 1 abaixo mostra no trabalho com capim Marandu, na altura de entrada de 25 cm os animais apresentaram maiores valores de ganho de peso médio por animal por dia (0,629 e 0,511 kg/dia) e por hectare (886 e 674 kg/ha), bem como de taxa de lotação (3,13 e 2,85 UA/ha), em relação à altura de 35 cm, independente da adubação.
Figura 1. Evolução mensal do peso corporal de novilhos Nelore em pastos de capim marandu, submetidos a estratégias de pastejo rotativo e à adubação nitrogenada, de fevereiro de 2009 a abril de 2010.
Legenda:
T1 – Altura de entrada 25 cm – 50 kg/ha adubação nitrogenada
T2 – Altura de entrada 25 cm – 200 kg/ha adubação nitrogenada
T3 – Altura de entrada 35 cm – 50 kg/ha adubação nitrogenada
T4 – Altura de entrada 35 cm – 200 kg/ha adubação nitrogenada
Outra pesquisa que exemplifica bem como a maior altura do pasto não está diretamente relacionada com maiores ganhos animais, foi feita em 2018 em que foi avaliado pastejo em Capim Elefante cv. Cameroon de vacas mestiças (Holandesas x Jersey), em duas alturas de entrada. A altura com 95% de interceptação luminosa, ou 100 cm, obteve maiores ganhos quando comparada a altura de 130 cm (100% de Interceptação Luminosa), conforme Figura 2 abaixo, a altura maior resultou em diminuição de 16% na produção de leite/vaca/dia, 34% a menos no total de leite produzido por hectare, com uma perda 911 kg/ha de forragem a mais.
Figura 2. Produção de leite por vaca, por hectare e perda de forragem em dois manejos de altura conforme interceptação luminosa e correlação com alturas (100 e 130 cm).
Fonte: Adaptado de Congio et al., 2018.
Erros comuns e suas consequências
- Erro 1: Deixar a pastagem muito baixa
Causa: Geralmente devido à alta lotação animal ou falta de pasto disponível (quando não há planejamento e é necessário manter o animal no pasto).
Consequência: Os animais podem comer a gema apical da planta, atrasando a rebrota ou até matando a planta e deixando espaços para o aparecimento de invasoras e cupins.
- Erro 2: Deixar a pastagem muito alta
Causa: Geralmente quando o pastejo inicial não foi feito de acordo com a altura recomendada para entrada.
Consequência: O aumento da massa na parte superior faz sombra na parte inferior, e para conseguir sobreviver, a planta precisa alongar seus colmos/talos prejudicando a qualidade da pastagem para o animal.
- Erro 3: Esperar “sementear” o pasto
Causa: Ainda é comum produtores que aguardam a planta soltar a semente para colocar os animais no pasto no primeiro pastejo, após a implantação da forragem.
Consequência: Quando a planta chega no seu estádio reprodutivo seus níveis nutricionais caem drasticamente, pois estes são direcionados para a semente, além de produzir mais colmos e menos folhas, diminuindo qualidade, digestibilidade e aumentando fibras. Outro ponto, é que essa planta que não passou pelo manejo ideal para produção de sementes, na maioria das vezes irá gerar uma semente de baixíssima qualidade, que muitas vezes pode nem chegar a germinar. Mas o principal é a perda de dinheiro, pois cada dia que o produtor deixa de usar o pasto é um dia a menos de produção de carne ou leite naquele local.
Recomendações quanto às alturas de entrada e saída dos animais do pasto
Se os animais entrarem antes do ponto e pastejarem demais, irão atrapalhar a rebrota e retornar menor lucro. Se os animais entrarem depois do ponto, terão dificuldade para se alimentar, consumirão uma planta com menor qualidade e também trará menos lucro!
Portanto é importante seguir as alturas conforme o quadro abaixo:
Espécie | Altura de entrada (cm) | Altura de saída (cm) |
Andropogon gayanus cv. Planaltina | 60 a 70 | 30 a 35 |
Brachiaria brizantha cv. Libertad (MG-4) | 25 a 30 | 15 a 20 |
Brachiaria brizantha cv. Marandu | 25 a 30 | 15 a 20 |
Brachiaria brizantha cv. BRS Paiaguás | 25 a 30 | 15 a 20 |
Brachiaria brizantha cv. BRS Piatã | 25 a 30 | 15 a 20 |
Brachiaria brizantha cv. Xaraés | 30 a 35 | 20 a 25 |
Brachiaria decumbens cv. Basilisk | 30 | 15 a 25 |
Brachiaria humidicola cv. Comum | 20 | 5 a 10 |
Brachiaria humidicola cv. Llanero (Dictyoneura) | 20 | 5 a 10 |
Brachiaria Ruziziensis | 25 a 30 | 15 a 20 |
Brachiaria híbrida cv. BRS Ipyporã | 25 a 30 | 15 a 20 |
Panicum maximum c. Aruana | 25 a 30 | 15 a 20 |
Panicum maximum x P. infestum cv. Massai | 45 a 50 | 25 a 30 |
Panicum maximum cv. Mombaça | 80 a 90 | 30 a 40 |
Panicum maximum cv. BRS Quênia | 50 a 60 | 30 a 40 |
Panicum maximum cv. BRS Tamani | 45 a 50 | 20 a 25 |
Panicum maximum cv. Tanzânia-1 | 70 a 75 | 30 a 40 |
Panicum maximum cv. BRS Zuri | 70 a 75 | 30 a 40 |
Como realizar a medição da altura do pasto?
Agora que você conhece as alturas certas de entrada e saída, basta fazer a medição, que é bastante simples e requer poucos materiais (caso não tenha a régua de pasto da Embrapa):
Bastão com centímetros, ou trena de construção, ou fita métrica;
Ficha que deve conter basicamente: o nome ou identificação do pasto; a data da medição; a movimentação do lote (entrada ou saída), e as alturas medidas.
fonte: pasto com ciência
- Pegue as medidas de pelo menos 20 pontos diferentes, pois quanto mais pontos forem coletados, mais assertiva será a informação da altura média da pastagem.
- Some todas as alturas encontradas, e divida este valor pela quantidade de pontos de altura coletados para encontrar a média.
Cabe ao pecuarista ter um olhar mais atento e, também, ao manejador do pasto da propriedade ter atenção a estas práticas que, com o tempo, ajudarão a fazenda e todo o sistema pecuário a serem cada vez mais produtivos.
Referências:
CONGIO, G. F. S. et al. Strategic grazing management towards sustainable intensification at tropical pasture-based dairy systems. Science of the total environment, v. 636, p. 872-880, 2018.
GIMENES F.M.A et al. Ganho de peso e produtividade animal em capim‑marandu sob pastejo rotativo e adubação nitrogenada. Pesquisa agropecuária brasileira, Brasília, v.46, n.7, p.751-759, jul. 2011.
RODRIGUES E BORGES. Estudo de caso: Sisal planejamento agropecuário e assistência técnica. In: 25º Simpósio sobre manejo de Pastagem – Intensificação de sistemas de produção animal em pasto. Piracicaba. FEALQ, 2009. pg 266-269.
Para saber mais sobre o manejo de pastagens te convidamos a conhecer o blog da semente da SOESP.